FUNDAMENTOS PARA UMA TRILOGIA ARTÍSTICA
Exponho em casas outrora vividas mas agora desabitadas para poder habitá-las de novo com imagens de personagens femininas por mim propositadamente construídas e fotografadas para este efeito.
Exponho em casas outrora vividas mas agora desabitadas para poder habitá-las de novo com imagens de personagens femininas por mim propositadamente construídas e fotografadas para este efeito.
Actualizei o meu perfil no Blogger após o douto parecer sobre a matéria dado pelo meu advogado de direitos de autor e propriedade intelectual.
O recém-terminado mês foi aquele com mais visualizações (23.798) de sempre do blogue.
Iniciei Setembro -- mês de reencontros e recomeços -- da seguinte deliciosa forma: durante o dia, aproveitando a boa luz solar de Lisboa, a ler Lawrence da Arábia, de Robert Payne, e durante a noite a ver na televisão em directo de Nova Iorque pela madrugada dentro as partidas de Ténis das sessões nocturnas do US Open em Flushing Meadows, Queens (bairro consagrado à nossa Catarina de Bragança).
Ambas as actividades, e respectivas temáticas e problemáticas, têm mais em comum do que se possa, à primeira impressão, pensar.
Sabem bem os meus leitores, começando pelos da primeira hora, que optei há muito por vir para férias sem livros. Conhecem também a razão: neste lugar, onde, segundo Ramalho Ortigão escreveu com espanto, no seu maravilhoso livro As Praias de Portugal, «olhando-se para dentro das casas, até para as do povo, avistavam-se livros em estantes» (citei de cor), existem vários sítios, mais ou menos secretos, onde se podem adquirir livros de qualidade, em segunda-mão, por módico pecúnio. Calhou pois este Verão saltar-me à vista e vir ao meu encontro o tão sensual quão existencial romance Mulheres, de Charles Bukowski, num simpático volume. Nunca tendo eu lido a referida obra, nem nesta edição nem noutra qualquer, senti um misterioso déjà vu ao devorá-la, quase de um só fôlego, na barraca da praia durante o dia e depois em casa pela noite dentro. E bem me lembro que mesmo em plenos acelerados anos 80 e 90 do século passado, onde se liam muitos livros e viam muitos filmes, num ritmo en passant, com muitas e desvairadas gentes, fiquei-me pelo livro A Sul de Nenhum Norte, do referido autor, e pelo filme Barfly, sobre o mesmo escritor. Recordo-me até que à época senti claramente que não era chegada a hora de mergulhar na sua obra toda. Há, de facto, um tempo para tudo. É agora.
Já se sabe que a Ericeira é uma vila com especial ligação às belas-letras (e às belas-artes também). Porém, que se saiba, há apenas um grande romance português -- de um dos maiores escritores portugueses, por sinal -- cuja acção decorre integralmente nesta mística terra: Tristezas à Beira-Mar, de Manuel Pinheiro Chagas. Leia-se, pois.
Já aqui atrás em tempos referi a sábia observação de cariz sociológico do grande escritor e dandy Ramalho Ortigão a propósito do lugar onde veraneio; e, na sequência disso, não posso deixar de recordar, e de confessar até, que é a seguinte certeira frase (a qual pode ser lida na badana da capa do livro Ericeira - uma fotobiografia, de José Constantino Costa, com esquissos de Rui Pinheiro, Mar de Letras Editora, Ericeira, 2004) que melhor traduz o meu mais íntimo sentimento em relação a esta mística terra: «A Ericeira não tem banhistas, tem devotos». O grande historiador e comunicador José Hermano Saraiva dixit.
Veraneio num lugar onde se sucedem as quatro Estações do ano num só dia. Um sítio assim faz com que se vivam quatro estados de Alma em vinte e quatro horas. Experiência só aconselhável a pessoas com Espírito forte.
Quando os blogues apareceram, no início do Século XXI, o Verão correspondia a um deserto de leitores. Agora, na era dos smartphones com acesso à net, estes meses de estio afirmam-se, por estranho que possa parecer, como os que nos trazem mais visitantes.
14 de Agosto de 1385 — derrotámos os castelhanos em Aljubarrota, reafirmando a Independência Nacional.
21 de Agosto de 1415 — conquistámos Ceuta aos muçulmanos, iniciando a Expansão Nacional.
A Galeria Monumental publicou a sua lista de Exposições 1986-2024 (em actualização) aqui [é só clicar que vão lá dar].
Recordo com nostalgia e alegria a minha exposição individual nessa histórica galeria no mágico e já distante ano de 2000.
E é com honra e prazer que passo os olhos pela plêiade de excelentes artistas que também lá expuseram ao longo destes quase 40 anos.
No dia em que completou 30 anos de idade — 25 de Julho de 1139 —, D. Afonso Henriques derrotou os mouros (árabes muçulmanos) na Batalha de Ourique.
Era dia de Santiago (S. Tiago Maior, Apóstolo) e Cristo apareceu ao nosso Rei.
A festa do santo, o aniversário real, a batalha e o milagre assinalam-se hoje, portanto.
Os portugueses oscilam ao longo da vida entre um estado de espírito lírico — contemplativo, bucólico, poético — e um estado de espírito épico — activo, aventureiro, conquistador. Característica bipolar esta que bem doseada é uma extraordinária qualidade. Para mal dos nossos pecados a pátria parece ter atrofiado a sua dimensão épica e encontra-se em modo lírico há décadas.
Em tempos que já lá vão, iniciei no blogue uma série de mensagens intitulada «LIVRO PARA HOJE». Cheguei a passar a centena dessas publicações. Depois, fartei-me (coisa boa desta brincadeira muito séria da blogosfera é escrever sobre o que quero e quando me apetece). Essa rubrica tinha uma dupla utilidade (uma externa e outra interna): os meus caros leitores tinham assim acesso a fichas técnicas dos livros e, ainda, em alguns casos, a pequenos esquissos, da minha autoria, à laia de recensão crítica, sobre os mesmos volumes; e, este vosso escriba ficava com fichas bibliográficas online (mais fáceis de guardar que em papel) dos livros da biblioteca. Toda esta arengada serve para anunciar que sinto vontade de ressuscitá-la, continuando a construção da referida coluna.
Um clássico é um modelo de um objecto (duma caneta, dum cinzeiro, casaco, moto, carro, chapéus, sapatos, etc.) que, embora haja épocas em que deixe de estar na moda, voltará sempre a usar-se, devido à sua qualidade estética ser intemporal.
Com o fim do álbum de vinil perdemos uma obra de arte completa, o belo grafismo das capas, a hora de música em duas partes, o som quente e as letras das canções escritas em papel.
Haja esperança, pois parece que está a voltar...
O luar é azul em Chateaubriand e Victor Hugo, amarelo em Beaudelaire e Leconte de Lisle. Cá para mim — crescente, cheia ou minguante —, a luz da Lua será sempre prateada.
Durante anos a fio — os da saída da adolescência e de entrada na idade teoricamente adulta —, andei sempre com um caderno de bolso de capa preta dura e folhas brancas lisas metido na algibeira do blazer, ou do blusão de cabedal, ou na mão, estivesse eu num café, num cinema, numa tertúlia, num concerto, num fim-de-semana alucinante, ou numa viagem distante. Na sequência deste hábito, possuo dezenas deles guardados; mas, não convenientemente organizados. Tenho a clara sensação que ganharei em lê-los com bastante distância temporal, e sei que me surpreenderei quando o fizer. Só espero não me assustar com o que lá vier a ver quanto lhes puser de novo os olhos em cima. Anseio sim por lá encontrar registadas sínteses das melhores conversas que tive nesses anos.
Aqui no blogue — bloco de apontamentos dos novos tempos digitais —, a coisa processa-se de diferente maneira; pois, todos os santos dias pomos a escrita em dia e deitamos conta à vida, através das mensagens anteriores e do arquivo (sempre à mão de semear). Acresce ainda a isto, muito especialmente, a interacção com amigos que nos enriquecem com oportunas trocas de opiniões feitas por computador, telemóvel, ou ditas de viva voz — por vezes até ao vivo e a cores (as melhores, porque mais saborosas). Desta forma, lançando pontes, trata-se já de conversar — essa superior arte que permite estabelecer e definir afinidades.
À laia de remate, posso dizer que consegui assim colocar ao meu serviço os modernos canais de comunicação à distância, tendo no entanto a certeza de ser o tradicional contacto directo e de proximidade o fim que justifica a utilização destes novos meios.
Gramsci, no século passado, chamou a atenção para a importância da cultura. Maomé, in illo tempore, definiu o papel decisivo da demografia. Ambos, hábeis políticos que eram, tinham razão; e, na realidade, a combinação dos dois factores revelou-se sempre determinante, ao longo dos tempos, para o sucesso de qualquer projecto geopolítico. Nações e impérios expandiram-se enquanto dominaram estes vectores e caíram quando deixaram de o fazer. Atendendo a que «o fim da História» afinal ainda não aconteceu, nem tampouco se deu ainda «o choque das Civilizações», as lições deles voltam a estar na ordem do dia.
E a conclusão é, portanto, simples: a civilização que tiver mais crianças e que conseguir educá-las nos seus valores acabará, mais tarde ou mais cedo, inevitavelmente, por triunfar; e, desta, vez, talvez seja para todo o presente milénio. É uma óbvia constatação de realpolitik.
Para mal dos nossos pecados, a Europa cristã definha, dia após dia, a olhos vistos, em ambas as coordenadas.
Urge que as alvas calçadas da bela cidade branca avancem em largura sobre o negro alcatrão das estradas e que nelas sejam plantadas árvores.
Releio a obra Die Spatziergänge oder die Kunst spatzieren zu gehen, de Karl Gottlob Schelle, na edição francesa, da Rivages Poche / Petit Bibliothèque, intitulada l'Art de se Promener, e prefaciada e traduzida por Pierre Deshusses.
A propósito: quando é que em Portugal se começam finalmente a fazer edições boas para o bolso e para a bolsa? Por enquanto, de um modo geral, costumam ser feíssimas e caríssimas.
Este livrinho, escrito em 1802 por um amigo de Kant e correspondente de Goethe, permanece para mim como o mais útil manual da arte de bem passear (não confundir com as famigeradas caminhadas e corridas). Dúvidas houvesse e ficaria demonstrado neste pequeno ensaio que a simples prática física do passeio, de preferência feito em boa companhia, propicia prazer estético, ao mesmo tempo que nos transporta a uma elevada dimensão espiritual.
Duas coisas se perdem neste meio de comunicação. Meio de comunicação porque é de pôr em comum que se trata; pois, embora escreva estas notas soltas ao correr do teclado como se de um diário pessoal secreto se tratasse, sei bem que os meus estimados leitores estão aí desse lado. Afinal, é como se deixasse o caderno de apontamentos propositadamente esquecido na mesa do café, ou no compartimento do comboio, e ficasse escondido a observar, para poder ter, desta forma, duplamente, o perverso prazer voyeur de ver alguém pegar nele e lê-lo — atitude que, vice-versa, por educação e pudor, nunca teria em relação ao de outrém.
Dizia que duas coisas se perdem nesta «escrita à máquina» na «rede global»: são o tom e a caligrafia. O primeiro, vai todo pelo som e é o núcleo fundamental da linguagem oral, na medida em que reforça — ou cria, até, em certos casos — o verdadeiro significado das palavras. A derradeira, será a caligrafia. Sobre esta, múltiplas análises podem os especialistas produzir. Para já, constato com tristeza que está em vias de extinção. É portanto com nostalgia que deito os olhos a cartas escritas à mão, redigidas ainda na boa tradição epistolar — registo literário por onde passou tanta correspondência dos nossos antepassados: assim se namorou, se relataram viagens, se fizeram negócios, se participaram casamentos e nascimentos, se tomaram decisões privadas e públicas. Assim se fez História. E a grafologia não deixava mentir...
Vem tudo isto a propósito (ou a despropósito) de ter descoberto, qual sinal da idade, que a minha letra está a mudar.